terça-feira, 25 de junho de 2013

O sol, o tempo e Celine e Jesse "Antes da meia-noite"

Quase 20 anos se passaram desde aquele encontro no trem em Viena. Vinte anos! O primeiro filme saiu praticamente quando eu estava nascendo, quando eu tinha idade pra querer um amor de filme desses eles já estavam se reencontrando dez anos depois num segundo filme da franquia, agora, mais uma década e o desfecho do que começou "Antes do Amanhecer" chega no cinema pra completar a trilogia e claro, eu to com a boca pinicando pra tagarelar sobre esses filmes que encabeçam minha lista de favoritos.

(contém spoilers, se não assistiu os filmes ainda, não leia pra não me odiar. Lê depois que assistir.)

O início:

Eu comprei por acaso o dvd de "Antes do Amanhecer" nas Lojas Americanas porque eu tenho o hábito de comprar dvds sem ter visto o filme. Às vezes eu dou sorte. É difícil eu gostar de um filme que o foco narrativo seja o romance mas esse é minha exceção. O tamanho do encantamento que provoca em cada detalhe, das paisagens às ideias, da paixão inesperada, das questões sobre a vida, do simplesmente parar pra conversar, não tem espaço pra defeito. É tudo lindo de um jeito que te obriga a gostar do filme, te envolve na história, te faz pensar junto com eles, te faz sofrer porque o tempo é uma torneira aberta e a hora de dizer adeus sempre chega, é rápido e profundo, é íntimo mesmo sendo com um quase estranho, é uma história sobre amor contada de forma romântica, mas que não cansa e nem é óbvia.

O mais mágico é que tudo é objetivo e metafórico ao mesmo tempo. Enquanto eles andam e conversam e dizem tudo o que pensam sem censura, a atmosfera do filme é metafórica. A alusão ao "nascer do sol" tem por dentro uma ideia de um amor novo, fresco, jovem, lindo. O filme alcança isso. Essa pureza de ideias, essa falta de desgaste, esse ser-por-ser e estar-por-estar. É só o encontro, ninguém tem marca de tempo ainda.

O meio:

Teve um hiato enorme entre o primeiro e o segundo filme. Onde o "Antes do Amanhecer" deixa uma dúvida deliciosa (se eles realmente vão se encontrar na data marcada) o "Antes do Por -do-sol" responde de imediato. Não, eles não se encontraram. E aí é o primeiro ponto sincero do filme: a vida é assim mesmo, algumas coisas dão errado, mas o amor tem uma insistência teimosa de não ir embora. O reencontro acontece porque o Jesse escreveu um livro sobre o encontro com a Celine e ela vai no lançamento do livro em Paris, onde ela mora. A partir daí o filme repete a fórmula (bem sucedida) do primeiro: duas pessoas conversando, passando por lugares lindos de Paris. Eles não se reencontram pra reviver a paixão daquele dia, eles simplesmente se reencontram. O Jesse está casado e tem um filho. A Celine não.

"Antes do por do sol" já tem dois pés mais firmes na razão, em decisões, tem medo da solidão, do tempo, do futuro. Não é um encontro de duas pessoas despreocupadas, é uma dose cavalar de toda a expectativa que a separação cria, porque a distância fantasia o amor, idealiza, aperfeiçoa. O tempo já é um peso na balança aqui. As questões já não são mais sobre o amor-por-si-só, mas do amor entre eles, o amor que é deles, a hora da tentativa e da decisão. Ainda novo, ainda é fresco, ainda é sob a luz, ainda é lindo e cheio de expectativa. Ah, a expectativa! Adoro a teoria. Teorizar o amor. Esse filme é pura teoria e deixa a última pergunta. Vão ou não ficar juntos?

O final:

E a gente chega em "Antes da Meia Noite". Sim, eles ficaram juntos. Sim, deu certo! A essência daquela intimidade, do você-é-minha-companhia-preferida fica evidente logo que o filme começa. O tempo passou e passou muito, ele tem um filho crescido com a primeira esposa, eles têm gêmeas lindas (mini Celines loirinhas ora falando inglês, ora francês) e o filme mantém a fórmula dos anteriores: pessoas conversando. O que era teoria e questionamento sobre o amor, a vida, a arte, a alma, agora é lugar pra filhos, supermercado, amigos e a própria relação entre eles. O amor, aqui cansado, marcado pelo tempo, não é exatamente tedioso, mas tem uma burocracia que antes não tinha. Viver a história não é tão poético quanto imaginar a história, quanto a expectativa da história, de simples encontros com um espaço enorme de tempo entre eles. Aqui é dia-a-dia, aqui para sempre. "Antes da Meia Noite" só não é doído (com acento no í) porque é real. Alguém me explica o que é "final feliz" no fim das contas? Felicidade pura também entedia. Eles encontraram a medida, o balanço certo de estar junto e não ser um casal comum, de estar junto e honrar o início incrível que tiveram e o início é muito mais relevante do que o desfecho, isso em qualquer coisa. O filme deixou isso claro, mantendo o jeitinho dos personagens mesmo tanto tempo depois.

Sendo assim,

pessoalmente, eu não "cresci" com esse romance. Ainda estou na fase "Antes do Amanhecer", talvez um quase "Antes do Por do Sol" mas bem, bem distante do "Antes da Meia Noite". Ainda prefiro a minha visão romântica dos encontros e despedidas e não do propriamente estar junto. "Antes da Meia Noite" é sobre estar junto. Com eles, o tempo passou e carregou o romance, mas não a felicidade, não a realização, não a paz e tranquilidade dos que "chegaram lá". Eu ainda sou expectativa, eu ainda sou reflexão e teoria. Eles já são a própria consequência.

Pra quem acompanhou a história desde o primeiro filme, esse é indispensável como cereja do bolo. Pra quem não acompanhou, se assistir o primeiro vai querer assistir  o segundo e por consequência vai pirar pra assistir esse.

É um filme que eu recomendo muitíssimo. Aliás, recomento todos os três.


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